Os métodos convencionais estão a dar lugar a abordagens inovadoras, nas quais o papel principal é desempenhado pela Inteligência Artificial (IA).
Um novo ano não é apenas uma unidade de tempo, é uma oportunidade para as organizações traçarem novos caminhos rumo ao crescimento sustentável.
No universo laboral, mais especificamente na área de Recursos Humanos, a inovação tem sido a bússola que conduz algumas organizações em direção a abordagens mais ágeis e eficazes, enquanto continua a representar um mistério para outras.
Conforme o estudo do ManpowerGroup, 70% das organizações em todo o mundo já implementaram novas tecnologias, como a IA, realidade virtual (RV) e machine learning (ML) nos seus processos de recrutamento ou planeiam fazê-lo nos próximos três anos. Contudo, a aceitação destes novos métodos varia entre os profissionais. Quase 60% dos candidatos mostraram recetividade a experiências de recrutamento com recurso à RV, em contraste com 38% dos entrevistados que discordaram.
No caso da EDP, “por hora a Inteligência Artificial é utilizada no processo de retenção de talento nos EUA onde o mercado é muito dinâmico”, esclarece Milena Monteiro, Sub Diretora Planning & Analytics P&OD na EDP. Enquanto na Vieira de Almeida, “a utilização de sistemas baseados em Inteligência Artificial (IA) ocorre há alguns anos e está assente numa visão estratégica que procura compreender como podemos retirar mais valor na utilização destes sistemas, e não a automação ou substituição de trabalho por algoritmos”, afirma José Sintra, Head of People Strategy na VdA.
Cientes destes desafios, José Sintra explica que a VdA criou uma equipa multidisciplinar, para liderar o programa de Gestão de Mudança, que consiste no acompanhamento e monitorização de novas tecnologias na firma. “Desenvolvemos uma estratégia de crescimento sustentável em que as funções da Direção de Tecnologia têm vindo a ser reforçadas anualmente, assim como integramos outros colaboradores (advogados e dos departamentos de gestão) que possuem conhecimentos, profissionais e académicos, relacionados com tecnologia”, acrescenta José Sintra.
Num contexto de mudanças tecnológicas, emerge um novo conceito: o darwinismo digital. Semelhante à teoria da evolução de Charles Darwin, este fenómeno sugere que as organizações mais aptas a evoluir em resposta às mudanças tecnológicas, tendem a ganhar vantagem competitiva.
No âmbito dos Recursos Humanos, o darwinismo digital desafia as empresas a tornarem-se agentes ativos na transformação digital — portanto, não se resume apenas à integração de tecnologias avançadas, mas sim à adotação de uma nova mentalidade.
“A chamada Gen AI permite-nos fazer em três dias o que normalmente fazíamos em cinco, permitindo uma maior produtividade e capacidade de resposta por parte dos vários colaboradores. Hoje falamos em ter uma assistente por colaborador, ou mesmo uma assistente de gestão para cada gestor de pessoas. Essa assistente virtual, baseada em ferramentas de inteligência artificial, permite fazer mais e melhor”, indica Rogério Canhoto, Chief Business Officer na PHC Business Software.
A MuleSoft revelou, no seu estudo anual, que 69% das empresas dizem estar à frente do seu progresso e os projetos de TI aumentaram 41% face ao ano anterior. O inquérito, realizado a mais de 1.000 CIO e profissionais de TI, aponta que cerca de 1.000 aplicações são utilizadas pelas empresas, no entanto, apenas 29% destas estão integradas.
De facto, a resistência à mudança é um desafio comum, que o diga Milena Monteiro. “Os desafios são os mesmos para qualquer ferramenta tecnológica. É por isso que os colaboradores precisam de ser capacitados para usar eficientemente estas novas ferramentas. É essencial investir na segurança da informação e no data literacy”, explica Milena Monteiro.
Este fosso na integração sublinha a necessidade de, primeiro, ser trabalhada a mentalidade das pessoas e, depois sim, concentrar forças na implementação de estratégias e ferramentas tecnológicas. Esta abordagem holística, que prioriza a mentalidade antes da tecnologia, representa um passo significativo na construção de organizações mais ágeis na era digital.
Personalizar resultados com o “prompting”
Ao analisarmos especificamente os modelos de IA generativa, constatamos que a capacidade de interagir eficazmente com estas tecnologias, emerge como uma extensão natural dessa mentalidade digital.
“Os modelos da IA generativa (sendo o mais conhecido o ChatGPT) podem dar-nos outputs tanto mais relevantes quanto melhor for o nosso input em linguagem natural — isto é, o prompt. A arte do prompting é algo totalmente novo, com que não estamos habituados a trabalhar. Os colaboradores que melhor souberem dominar esta arte, ou seja, os que melhor souberem falar com a IA, são os que serão mais capazes de estender as suas capacidades através da IA e poderão realmente ter um assistente pessoal – um `copiloto` – no seu trabalho”, explica Manuel Faria, Technical Specialist na Microsoft.
O mercado de trabalho tem observado o surgimento de novas profissões à medida que a IA ganha relevância — uma delas é o prompt engineer. Esta profissão consiste em treinar sistemas de IA até os profissionais serem, eventualmente, substituídos por eles. Segundo um estudo publicado pelo World Economic Forum, esta crescente automatização das forças de trabalho vai provocar a perda de 85 milhões de trabalhos até 2025. Porém, prevê-se que surjam mais de 97 milhões novos empregos e o prompt engineering é um deles.
“Creio que é difícil pensar em algum processo de uma organização onde nenhuma destas capacidades possa ser útil ou até mesmo altamente transformadora. Podemos pensar em exemplos como o processamento automático de valores de faturas ou contratos; a obtenção de um resumo automático das chamadas num call center; a geração de atas de reuniões ou sumários de audiências; a consulta de documentação de procedimentos ou regulamentações com uma simples pergunta em linguagem natural; a produção de conteúdos de marketing; a deteção de fraudes com base em padrões; a atualização e melhoria de código e sua documentação; etc.”, sublinha Manuel Faria.
Com a evolução do cenário profissional e a introdução de novas profissões, torna-se imperativo que as organizações invistam em programas de formação contínua de forma a capacitar os colaboradores a integrarem-se neste ambiente tecnológico. “Este incremento de valor na produtividade dos colaboradores necessita de um plano de formação nestas ferramentas inovadoras que estão agora ao nosso alcance. É essencial otimizar os investimentos realizados e garantir o bem-estar e a motivação dos colaboradores nas suas funções atuais e futuras”, aponta Rogério Canhoto.
Manuel Faria realça ainda que “a IA pode também ajudar-nos a dar pistas sobre a melhor forma de fazer uma tarefa: no caso do Copilot for Microsoft 365 – solução de IA generativa embutida nas aplicações do Office, com acesso a informação corporativa do utilizador – ajuda-nos a saber utilizar melhor as ferramentas do Office. Por exemplo, o Copilot no Outlook permite não só ajudar-nos a criar um rascunho de um email, como também avaliar um email rascunho já escrito por mim e dar sugestões de melhoria, numa funcionalidade chamada `Coaching`”.
Criar compromisso com a segurança de informação
O relatório “CEO Outlook 2023” da KPGM assinala que a implementação de tecnologias, como a IA, está no topo da agenda de muitos líderes empresariais (72%), apesar dos desafios associados aos riscos da segurança de informação.
Na Vieira de Almeida, a segurança de dados é encarada “com grande seriedade e profissionalismo”. Além da certificação 27001 e o cumprimento do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD), José Sintra reforça que a segurança de informação é a base de tudo. “É um pilar estratégico do nosso programa de formação, Learning Journey, no qual disponibilizamos regularmente ações de formação sobre estas temáticas”, explica à RHmagazine.
Esta posição também é partilhada pela EDP. “Temos como procedimento padrão do grupo sempre que iniciado um projeto que envolve o tratamento de dados pessoais, temos de criar um privacy by design para assegurar a implementação de medidas para garantir a proteção dos direitos dos titulares dos dados e o cumprimento da lei”, sublinha Milena Monteiro.
Este enfoque estratégico é fundamental numa era em que a interseção entre tecnologia e segurança molda o caminho para o sucesso empresarial sustentável, uma realidade que se observa em diversos setores em Portugal.